A Votorantim acompanhou o crescimento do Brasil nestes 100 anos de história. Viu nascer vilas operárias, bairros, municípios e cidades inteiras ao seu redor, como a cidade de Alumínio, no interior de São Paulo que cresceu ao redor da fábrica CBA – Companhia Brasileira de Alumínio. Da mesma forma, a Votorantim viu crescer também o bairro do Brooklin, famoso por ser hoje um dos centros financeiros da capital paulista. 

O antigo Brooklin Paulista hoje é dividido em duas grandes áreas, o Brooklin Velho e o Brooklin Novo. O Brooklin Velho é uma região majoritariamente residencial, conhecido por ser uma área nobre da cidade de São Paulo. O Brooklin Novo abriga um dos maiores centros comerciais do país, sediando diversas empresas importantes, canais de rádio e televisão e possuindo um dos mais modernos cartões postais da cidade de São Paulo, a ponte estaiada Octávio Frias de Oliveira. 

Fotografia parte do acervo Memória Votorantim

Assim como diversos outros bairros de São Paulo, o Brooklin surgiu às margens dos trilhos dos bondes da Light, empresa canadense que gerenciava alguns dos principais serviços de transporte e energia da cidade no início do século XX. Nesta época, a região era praticamente inabitada por estar localizada longe do centro da cidade, contendo apenas algumas construções originárias de uma antiga fazenda da região. 

Antonio Pereira Ignacio ao adquirir a massa falida do Banco União recebeu não só uma fábrica de tecidos como parte dos ativos do antigo banco, mas também diversos empreendimentos como uma fábrica de cal, uma antiga serraria, entre outros. Além desses, uma série de terrenos em São Paulo faziam parte dos ativos adquiridos do banco, e destes incluíam lotes de terras no atual Brooklin. 

Quando a Sociedade Anonyma Fábrica Votorantim começou a ser administrada por Antonio Pereira Ignacio a partir de 1918, ela passou por várias reformulações administrativas e em 1922 houve a inclusão de uma área de administração desses terrenos, chamada “Secção de Terrenos”, que passou a gerenciar e organizar lotes imobiliários na região do Brooklin. 

O impacto positivo da venda de terrenos no Brooklin foi expressivo na economia da empresa em seus primeiros anos, representando cerca de 13% das receitas do Grupo a partir de 1922, sendo a segunda fonte de receita depois da Fábrica de Tecidos Votorantim. Por conta disso, uma série de investimentos foram feitos até o início da década de 1930, com destaque para a Estrada de Ferro Elétrica Votorantim (EFEV) que teve o alargamento da bitola e renovação de seus trilhos integrando-a ao sistema estadual de transporte ferroviário. O investimento na a EFEV, que foi a primeira estrada de ferro particular do país a ser totalmente eletrificada, facilitava o escoamento da produção de tecidos e o transporte de matérias primas. O projeto grandioso teve a presença do então presidente Washington Luís em sua reinauguração. 

Fotografia parte do acervo Memória Votorantim

A Fábrica de Tecidos se beneficiou também do reflexo positivo da “Secção de Terrenos” com a modernização de seus maquinários, teares, processadores de algodão, etc, o que permitiu a Votorantim se tornar a maior produtora de tecidos do Estado de São Paulo antes mesmo do início da Década de 1930. Tais investimentos possibilitaram a empresa enfrentar a grande crise que estava por vir e foi base da diversificação do portfólio observada a partir do ano de 1935 – tudo isso, graças ao capital gerado a partir das vendas dos terrenos no Brooklin e a consequente integração dos negócios da companhia. 

O centenário da Votorantim nos estimula a refletir sobre os vários momentos importantes da história da companhia, que se misturam com a história do Brasil. Um legado que contribui não só com o desenvolvimento industrial do Brasil, mas também com os mais diversos aspectos da sociedade, como o desenvolvimento urbano das cidades, neste caso.